A culpa de ter deixado pessoas terem tanto acesso a você.
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Acho que a escolha do tema de hoje começou tempos atrás, quando eu finalmente entendi que desabafos por impulso era algo que eu fazia constantemente. E esse impulso vinha de ter sido, por muito tempo, uma grande guardadora de dores.
Imagina que maravilhoso entender que conversas sinceras ajudam em muitos processos… mas também perceber que você acaba fazendo isso demais, sempre que tem oportunidade.
Muito provavelmente você cresceu como alguém que não tinha com quem compartilhar as agonias. E agora você tenta (ou tentava) suprir isso, entregando demais de si mesma a pessoas que sequer iriam ficar.
Como posso explicar que minhas antigas entregas emocionais me doem? Se você também sente isso, então vamos falar sobre juntos.
Exposições que não conseguimos mais desfazer
Já falei antes como me dá tristeza saber que existem pessoas que conhecem versões de mim que já não existem, e isso reaparece aqui junto de uma vergonha enorme.
Você sente vergonha de ter compartilhado partes da sua vida? Seja por um áudio de madrugada, em uma conversa suscetível a se abrir, ou em uma roda de amigas, que pareciam mesmo que iam revelar os detalhes mais importantes de suas vidas. Qual foi a situação mais marcante em que você se expôs e depois se arrependeu?
Comigo acontece bastante em momentos em que dou uma exagerada na bebida, e nossa, que desconforto lembrar depois de coisas que hoje eu preferia simplesmente guardar. Como a maturidade é maravilhosa!
Existem escolhas e consequências que vêm e não voltam. A gente fica sentindo aquilo um tempo.
Será que eu também tô fazendo um paralelo com a famosa ressaca de vulnerabilidade? Aquela sensação de que você nem precisava ter contado tanto assim.
Sinceramente? Apesar do que falei ali em cima, o sofrimento maior nem vem das relações que se acabam depois de revelações enormes (isso também), mas sim da exposição que você não consegue mais desfazer.
Imaginar pessoas que hoje não fazem a menor diferença sabendo sobre detalhes sórdidos, segredos reveladores e pedaços de mim, que deveriam ter sido melhor protegidos… é o meu pesadelo.
Por que você acha que se abria dessa forma? Impulso, carência, vontade de se conectar?
Eu odeio a maioria das escolhas que fiz no passado quando elas estão relacionadas a cautelas que não tive e desabafos que entreguei até demais.
Cheguei a um ponto da vida em que entendi finalmente que ficar calada ou apenas escrever histórias nos meus cadernos, me faziam seguir em frente, mas não me impediam de sentir sozinha.
Então acho que foi por isso. Me entreguei a relações, amizades e até pessoas sazonais (aquelas que duram, sei lá, só 6 meses) porque precisava muito me sentir menos solitária.
Porque queria muito pertencer a um espaço em que as experiências não fossem mais tão individuais. Você entende?
Muitas dessas conversas foram boas. Mas algumas foram só um jeito diferente de me machucar. Como a gente faz quando os grupinhos acabam, os relacionamentos terminam e todo mundo sabe demais sobre você?
Como se perdoar desse sentimento de angústia e por que ele é tão importante quanto se proteger?
Sabe, vamos tentar olhar pra isso sem colocar tanto a culpa em quem se foi, ou em quem já não faz diferença.
Talvez, não tenha sido o que eles fizeram de errado, mas apenas você, tentando ser compreendida, amada ou validada à sua maneira.
Quem não gosta de ser escutado? Ainda mais pessoas que cresceram sem a escuta de ninguém pra compartilhar as dores e os processos de crescer.
Ser impulsiva sempre me trouxe grandes vergonhas e problemas pessoais, mas existe hoje em mim uma virada de consciência que é muito importante. Uma decisão que muda tudo: perceber os sinais antes de se abrir demais.
Recentemente, conheci uma querida, que do nada me contou sobre toda a sua vida (eu vi demais dela em mim), mas também já te contei antes que isso acontece muito comigo.
Apesar de não ter sido muito ouvida durante a infância, me tornei “a Garota escuta”, vou inclusive deixar o artigo que escrevi sobre isso, aqui embaixo, caso você queira ler depois:
Continuando: quando essa querida me contou por completo a vida, e até detalhes dolorosos, imediatamente ela me disse:
"você pode me falar mais das suas questões também, se você quiser".
Senti nela um desespero por conexão, algo que eu conhecia bem e que também tinha procurado por muito tempo (…)
Mas também percebi um detalhe diferente: ela parecia querer sugar mais de mim do que eu poderia entregar naquele momento.
Ela era linda e um pouco mais nova, uns 27, mas tinha um olhar perdido, de quem precisa de conselho e abraço, mas de quem também se metia em muitos problemas.
Eu entendi aquela busca por conexão, mas naquele momento, em apenas 3 saídas pra cafés superfaturados, escolhi contar um pedaço até que importante, pra ela se sentir menos só. Mas não tudo, nem metade, nem os detalhes. Só um pedaço.
Não estou te dizendo que é fácil escolher pra quem não se deve contar tanto sobre você. Mas aquela escolha me fez voltar pra casa aliviada.
Eu pude sentir certa intuição, de que não era a pessoa certa pra compartilhar tanto de mim.
E quer saber? Ela realmente não ficou na minha vida.
Talvez você ache que se calar pode fazer você perder conexões importantes. Mas, você não acha que novas amizades e relações também podem se tornar importantes mesmo sem você precisar mostrar todas as suas dores?
No passado, eu achava que essa era a única forma que fazia sentido uma amizade ou relação acontecer. Mas hoje entendo que nossas prateleiras de amizades precisam de esforços até pra isso.
Pra quem vale a pena contar tanto? Quem não cabe nesta estrutura?
Tem coisa que a gente só compartilha com quem sabe cuidar. E nem todo mundo que vê nossas dores sabe o que fazer com elas.
Sou uma pessoa boa em acolher dores, exatamente porque não tive quem me acolhesse e me tirasse do sonambulismo de viver sozinha com as minhas escuridões.
Sua história não é pra todo mundo que parecer minimamente profundo.
E não são só as suas dores que criam vínculos importantes.
Olhar pra si mesmo e se entender como alguém que estava vulnerável é essencial. Você pode estar vulnerável, e o que pensam de você (estando na sua vida agora ou não), não define quem você é. Vamos repetir?
Você pode estar vulnerável, e o que pensam de você estando na sua vida agora ou não, não define quem você é.
Você já não é a mesma pessoa de antes, e isso é maravilhoso.
Aqueles com quem você compartilhou tanto, não sabem mais nada sobre quem você é.
Deixe que eles tenham suas próprias convicções, a busca que você precisa ter nessa vida tem que estar conectada somente a quem você é e ainda quer se tornar.
Quem você quer se tornar não se importa mais com a opinião daquelas pessoas. Então eu e você também não precisamos mais nos importar.
Existem partes suas que você só precisa mostrar agora, pra quem realmente fica
Este é ou não é um ótimo aprendizado? Acho que a gente pode ir guardando partes que precisam ser vistas, mas só pra quem demonstra algum cuidado.
Tem lágrimas que até me dão vontade de deixar cair em algumas situações, mas que hoje só aparecem quando sinto que não vão virar uma arma, sabe?
Sim, eu sou bem traumatizada com relações de amizade, mas acredito que tenha mais a ver com um critério que construí e que não tive por muito tempo. Eu não tive mesmo rs.
Sei que você fica lutando com o seu cérebro e achando que é errado ter se mostrado tanto antes pra algumas pessoas, mas isso foi em outro tempo, outro você, com outras necessidades.
Se você era dessa forma na época, não se julgue! Eu sempre trago as reflexões pra que você possa se refletir melhor.
Te desejo sinceramente que consiga encontrar pessoas que vejam o que você ficar confortável em mostrar, e que mesmo assim decidam ficar.
E queeeeem sabeeeee, depois possam construir algo mais profundo, a ponto de você se sentir abraçado pra se abrir de novo.
Continuo tentando cuidar das minhas partes mais delicadas bem quietinha, e é difícil demais lembrar que tanta gente sabe muito de mim. Mas aquela era uma versão minha que precisava disso pra se tornar quem eu sou agora.
Não é sobre fraqueza, mas muito mais sobre maturidade. Sobre crescer. No fim, estou sempre compartilhando com você os pensamentos mais importantes que tenho sobre como é crescer.
Não se torture. Torço pra que você continue crescendo, mas sem vergonha nenhuma, de quem você foi em cada parte do processo.
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Recadinhos rápidos e especiais:
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Em Escritos - o início, criada quando comecei a dar voz aos textos em 2020, postei 20 episódios (para ouvir de forma aleatória). A interpretação da época ainda é tímida, mas vale demais a pena. Pra mim o melhor é Vilã:
Em Âmago, uma série com 7 episódios (que você pode ouvir no Podcast, mas também assistir com minha interpretação no Youtube), interpreto minhas poesias mais densas, profundas e que fazem qualquer um chorar. Deixo aqui o meu Episódio favorito, Versões de mim:
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Um beijo da sua escritora mais intensa,
LUA.
Como o algoritmo é bom por aqui. Acabei de falar um pouco sobre essa exposição, esse acesso. E me deparo com essa escrita abordando outro tipo de exposição e pontos de vista. Achei maravilhoso!
Que textão maravilhoso Lua. Me identifiquei muito. Mas, além disso, quero te parabenizar pelo podcast. Sua leitura parece uma conversa envolvente. Achei show!