✨ O que me fez escrever pela primeira vez

Um mergulho sincero no meu começo com a escrita - não como projeto, mas como necessidade emocional.

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Sobrevivendo de letras misturadas e sentimentos confusos

Acho que chegamos a uma certa idade, em que fica difícil que nossos pais realmente nos entendam. Isso se a gente estiver falando de uma família minimamente saudável e que se importa com a nossa existência. E mesmo que não tenha sido assim, ainda crescemos com questões que pareciam só nossas, mas não eram. Como foi a sua enquanto você crescia?!

Quando comecei a assistir This is US, uma série sobre um casal e seus 3 filhos totalmente diferentes um dos outros, entendi que não importa as circunstâncias dessas nossas famílias, vamos todos crescer e individualmente passar por traumas e problemas muito pessoais. Mesmo que acolhimento e amor estejam ao nosso favor.

This us Us, lançada por acaso ou não, em 20 de setembro de 2022. Mesma data do meu aniversário de 28 anos. Você também sente que algumas histórias chegam até a gente na hora exata?

Cresci em uma família realmente muito pobre e com pais que fizeram todo o possível pra que eu tivesse uma vida melhor. Mas passava muito tempo sem eles enquanto trabalhavam, e minhas memórias são solitárias. Lembrar algo, uma cena, um resquício, é emocionante pra mim, porque significa que existiram. Entende o que quero dizer? Você consegue lembrar bem da sua infância, dos seus momentos?!

Me acostumei com a solidão de um jeito em que me apaixonei por ela. Mas tinha muita raiva guardada. E acredita que essa é a minha primeira memória ao escrever? Um momento de raiva. Nossa, como sentir arder o peito pode ser poderoso (…).

Aos 5, minha mãe me deu um diário bem pequeno, que tava mais pra um caderno simples ou agenda. As folhas eram vazias e coloridas. Ela trabalhava em uma papelaria, e trabalhou em papelarias ainda por 30 anos.

Me trazia sempre lápis brilhosos coloridos e cheios de glitter, marca textos perfeitos, borrachas diferentes, canetas com água e elementinhos pequenos, como estrelas ou luas, um mundo cheio de cores, que eu amava. Parece que eu consigo sentir o cheiro enquanto te conto isso. Talvez veio daí minha fixação com estrelas e objetos criativos. Você lembra de algo pequeno da infância que virou parte da sua identidade até hoje?

Eu aproveitava pra vender na escola. Pequenininha e empreendendo. Não lembro o que eu fazia com o dinheiro, mas eu vendia tudo.

Bom, a raiva foi mesmo poderosa para que eu escrevesse o que estava sentindo. Lembro de abrir o caderno, falar sobre o meu pai, citar as características dele mais negativas.

Escrito torto,

com um mal português

lágrimas nas folhas,

querendo entender.

Não tenho memória sobre o que exatamente eu dizia. Já percebeu que eu não tenho memória sobre muita coisa, né?! Mas lembro de aquele momento ter desbloqueado algo em mim.

Minha mãe me trouxe ainda mais cadernos com o tempo e eu usava todos. Comecei primeiro a tentar fazer poesias, daquelas rimadas, sabe?! Percebi que era boa nisso, mas não gostava tanto. Depois, mudei pra desabafos. E foram nos desabafos que a coisa andou. Dava pra ver que eu era boa mesmo.

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