Não aceitar quem você é vai te custar caro demais.
O preço dessa rejeição silenciosa pode ser muito maior do que você imagina.
🎧 Para ouvir o texto narrado, aperte o play aí em cima e deixe minha voz te acompanhar.
Já se perguntou se você aceita sua própria história? Ou se você só aprendeu a seguir em frente tentando parecer forte, sem nunca olhar com carinho pra quem você é?
Em uma conversa com a minha primeira psicóloga, lá em 2021, ela me disse algo que mudou minha vida e a minha forma de ver as coisas.
Eu estava passando por um processo de teste psicológico para descobrir se tinha algum tipo de transtorno.
Hoje sei que sou diagnosticada com TDEPT (transtorno do estresse pós traumático), mas naqueles dias a intenção era descobrir um borderline ou bipolaridade.
Os testes deram negativo, mas você vai entender porque estou te contando isso.
“Agora, você tem a chave da sua própria vida”
Foi o que minha psicóloga me disse, depois de uma crise de choro minha. Lembro de chorar mais ainda. Foi como se ela tivesse me abraçado e tirado algo ruim de mim.
Quando eu era menor, morava com outra família e dificilmente conseguia estar sozinha. Foi só a partir da adolescência que isso começou a acontecer.
Minha mãe deu uma chave da minha “casa original” pros meus “cuidadores”. Casa minha, dela e do meu pai, chave essa que eu só podia usar as vezes.
E quando você não tem a chave da própria vida por tanto tempo, é difícil entender sua identidade.
Quantas vezes você sentiu que não tinha a sua chave? Quantas vezes você sentiu que só era você mesmo no seu próprio mundo?
Com o tempo, pude ficar cada vez mais sozinha. Fui uma pré adolescente daquelas que ficava muito tempo em casa esperando os pais chegarem.
Amava ouvir música e interpretar meus textos. Vivia uma realidade paralela maravilhosa, imaginando cenários novos, coisas que eu nunca vivi. Dançava meus clipes favoritos, com glitter por todo o corpo, fazia shows, dava entrevistas (…).
De vez em quando batiam na porta. Tias, tios, primos, vizinhos. “Ei, Luana, posso entrar?” E eu sem conseguir dizer não, dizia: sim.
Isso foi assim por muito tempo — e talvez tenha sido a primeira vez que eu deixei alguém ocupar um espaço que era só meu. A primeira de muitas. Você lembra quando começou a fazer isso também? Eu gostava mesmo era de ficar totalmente sozinha.
Naquela época parecia meio impossível pra mim ser eu mesma e eu mentia como quem troca de roupa. Não conseguia dizer a verdade nem sobre como foi o meu dia, era diferente, distante.
Só conseguia ser feliz de verdade, com um dos meus primos, que era como uma alma gêmea. Mas ser Lua (…).
Só conseguia ser Lua sozinha.
O medo de decepcionar faz a gente se apagar pra poder caber.
Minha forma de ser mudou quando comecei a perceber padrões em figuras masculinas. Eu sabia que não podia ser destratada, e isso também ficou comigo.
Nos anos em que ficava sozinha em casa, já prestes a fazer 12 anos, eu morava com um pedaço da família da minha mãe. Como já te contei.
Naquela casa, existiam 3 figuras masculinas importantes e uma delas era agressiva e autoritária. Meu pai também era as vezes, quando chegava na nossa casa.
Eu realmente odiava ter que lidar, e acho que tinha tanto receio de decepcionar essas figuras que eu não entendia, que fui uma criança apagada e solitária, mas que cresceu rebelde. Fazendo todo o possível pra se impor. Mesmo que as consequências fossem bem ruins.
As mulheres da minha família eram fortes, então eu também seria. Como eram as mulheres que você observava ao ver crescer?! Elas sabiam agarrar seus próprios espaços?
Isso fez diferença pra mim. Ver minhas tias, minha mãe. Todas fortes e expressivas. Vê-las me ajudou a sair daquele aspecto pequeno, eu quis ser grande e diferente. Ainda melhor. Elas sofriam sim, mas ninguém humilhava elas sem ser humilhado de volta. Elas sabiam devolver o que machucava.
E eu, pequena, aprendi a me proteger olhando pra quem sabia ocupar espaço sem pedir desculpa por existir. E eu fazia isso com qualquer figura que ousasse nos diminuir. Por minha mãe e tias. Por quem eu amava.
Antes de "me revolucionar”, tinha medo do mundo, da vida, não conseguia entender as atitudes das pessoas e era considerada uma criança tranquila. Mas sabemos o que pessoas tranquilas carregam no peito, não é?!
O quanto você guardou ai dentro pra ainda ter essa dificuldade tão grande de colocar pra fora quem você é?
Cansaço emocional e doação extrema.
Virei alguém considerada “agressiva” e que de algum modo, pegou na base do grito a chave de sua vida. E agora você já sabe porque.
Ainda assim, a intensidade extrema em que eu me doava para me defender ou proteger quem eu amava, me fez acessar algo que eu não sabia: nem todo mundo vai reagir do mesmo jeito por você.
A emblemática cena de implorar pra que sua mãe deixe seu pai ou padrasto, provavelmente é algo que você vai sentir identificação. O momento em que ela não fica do seu lado pra entender os motivos daquele homem também.
E aquele em que você entra em um embate por um amigo? Você já passou por isso?
Me doando demais sem perceber, fui fazendo isso pelo resto da minha vida. Com família, amigos, relações (…). E me assustava quando me pediam calma, quando diziam que eu tava exagerando, quando me deixavam.
Entrei em uma luta comigo mesma de ódio e rancor.
A culpa de tudo era minha,
o peso da vida era meu.
Me deixavam com razão
e eu devia ter algum grande problema.
Quem ia amar uma garota problemática como eu?
Eu sabia impor o que acreditava, mas por que então sentia aquele vazio?!
Foi aí que descobri que ser eu não era exatamente sobre me doar a quem aparecia na minha frente, mas deixar de rejeitar a mim mesma. Eu ainda não me aceitava.
Você aceita quem é? Faria por si mesmo o que já fez por quem não ficou? Ou ainda tá tentando conquistar o amor dos outros se abandonando no processo?
A aceitação não é passiva, mas uma escolha corajosa e ativa.
Quando minha psicóloga me disse aquilo lá atrás, eu entendi que minha auto-imposição e reações explosivas de defesa, eram um processo normal e de sobrevivência.
Eu aprendi a me defender a partir de contextos familiares e choques emocionais. Você aprendeu a ser você dentro de vários contextos também.
E enquanto você e eu estávamos sobrevivendo, outras pessoas estavam vivendo vidas mais leves, comuns, mais normais.
Já me meti em muita loucura na vida, com ciclos de pessoas que não eram positivas pra mim, entrando em brigas que não eram minhas e defendendo o que acreditava de um jeito que me fazia mal. Tocavam no meu ponto fraco, eu reagia.
Era forte, mas chorava depois, em casa e sozinha, do jeito que eu gostava de estar. Me culpando e me julgando de forma injusta!
Aceitar todos esses detalhes sobre mim não foi uma coisa que aconteceu do dia pra noite.
Depois dos 25 anos, quando tudo muda e a cabeça parece reorganizar quem a gente é, eu comecei a enxergar com mais clareza.
Eu quis sumir, conhecer gente nova, me reconhecer e me aceitar nas partes boas e nas partes ruins.
Quando a espiritualidade entrou na minha vida, ficou mais fácil me entender sem tanto medo. Mais fácil saber o que vem de dentro e o que foi jogado em mim.
A verdade? Você não é um príncipe ou princesa sem erros, sem sombras, sem caos. Você é feito de extremos, de partes que gosta de mostrar e outras que preferiria esconder.
Sua capacidade de amar é enorme, mas de machucar os outros ou se machucar, pode ser bem grande também. É preciso ser corajoso para mergulhar em si mesmo.
O que te digo aqui não é sobre amor próprio no molde pronto que vendem por aí. É sobre olhar pro que você é — mesmo quando não gosta — e continuar dali.
Quem entende luz e sombra e controla essas partes de si, é mais livre, mais leve e não precisa pagar com a alma pra caber em espaço algum.
Chega de lutar pra ser alguém, chega de se doar pelos outros e só, vamos olhar pra a gente!
Eu tive que brigar pra poder existir do jeito que existo hoje, e talvez você também.
Mas se você decidir se abraçar,
sua história a partir daqui pode mudar.
E, dessa vez, não por causa dos outros. Mas por causa de você!
Eu mudei e ainda vou mudar. Você também vai, se quiser!
Se aceite agora, ontem e amanhã.
Me rejeitar silenciosamente trouxe contas caras. Contas pagas com saúde emocional e física.
Mas desejo que você se aceite com a mesma força que ofereceu a quem amou. Porque aceitar quem você é — de verdade — vai te trazer presentes que duram pra sempre.
Minha psicóloga tinha um ponto e ela tava correta, cada um de nós, a partir de certo momento, recebe a chave da própria vida.
Comigo foi literal, a chave pra ficar sozinha em casa, criar um espaço só meu, encontrar minha identidade.
E também metafórico, a chave que me levaria a me orgulhar de quem sou hoje, com todas as luzes e sombras da minha história.
Sua história pode ser diferente da minha, mas terá similares. Se eu consegui me aceitar, você também consegue.
É tempo de agarrar a chave que te tiraram antes, é sua.
Abra quantas portas forem necessárias — elas te levarão até a melhor versão de você! 🔑
-
Gostou do que leu? Me deixa saber e curte clicando no coração no final do E-mail. Se ainda não é inscrito, assine. Até a próxima quarta. Um abraço estrelado da sua escritora mais intensa. Lua.
Ainda custa muito!
O vazio na sala, o silenciamento e o não lugar são contas que eu sigo parcelando, de contratos que eu não lembro como e quando concordei em bancar.
só queria dizer que terminei esse texto com vontade de me levantar e fazer um discurso inspirador pra mim mesma hahaha. brincadeiras à parte, sua escrita mexeu muito comigo. senti como um espelho me mostrando partes de mim que eu tento ignorar. a chave que a gente tanto busca fora muitas vezes sempre esteve com a gente. mas olhar pra ela e decidir usá-la exige coragem, e acho que seu texto é um lembrete gentil de que vale a pena abrir essa porta. obrigada por essa sacudida