Eu mudei, mas as pessoas ao meu redor ainda não aceitaram isso.
Como lidar com finais de ciclos e transformações pessoais profundas?
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Acho que as pessoas têm dificuldade em entender o quanto somos múltiplos. Você não tem a sensação de que querem que a gente se enquadre em uma coisa só?
Não só nos encaixotam em perfis, como meio que vamos sendo influenciados a acreditar que as pessoas tem isso também. Um jeito só de levar a vida, um jeito só de ser, de existir.
Eu nunca entendi muito bem.
Quando era criança era considerada tímida e introvertida. Na adolescência, a mais engraçada da turma. Com colegas de sala, boba. Com amigos pessoais, profunda. Eu nunca fui uma coisa só. E duvido que você seja.
Imagina ter um só perfil por toda a vida e não mudar jamais? Imagina deixar de florecer?
Ter noção da quantidade de coisas que sou, foi uma percepção que veio com o tempo. E vou falar mais sobre isso, mas aprendi que perceber algumas coisas sobre si mesmo, pode te fazer enfrentar finais de ciclos mais vezes do que gostaria.
As pessoas também tem dificuldade em entender que tudo se transforma quando decidimos ser a nossa melhor versão.
Se ninguém muda de verdade, o que significam as relações?
Com 14 anos de idade, troquei de escola. Tinha passado os últimos anos da vida no mesmo colégio particular. Foi uma fase importante porque já tinha feito aqueles amigos que a gente nesta época acredita que vão durar pra sempre. Uma das amigas conheci com 5. A gente passou tantas aventuras juntas (…)
De alguma forma acreditava que não existiria espaço pra mim depois. Sem ela, sem as pessoas que até ali tinham deixado marcas na minha vida.
Mas uma coisa que aprendemos exatamente nessa fase, é que tudo deixa marcas e que quase ninguém fica.
Quando vamos embora, guardamos sentimentos. Mas uma parte daquele espaço pega a direção contrária e vai embora de nós também, sem olhar pra trás.
Naquela nova escola, conheci pessoas que jamais vou poder me esquecer. Me apaixonei por partes delas que eram energéticas, engraçadas, sonhadoras, e as vezes, até maldosas. Era como me olhar no espelho.
Quem você era na adolescência? Com quem se aliava? Essas pessoas ainda fazem sentido na sua vida?
Fui uma jovenzinha magricela e extremamente utópica. Acreditava que meu destino já estava escrito. Com meu nome entre as estrelas. Não importava dinheiro, beleza, sorte. Tudo de bom e maravilhoso viria até mim sem esforço, mesmo que eu tivesse que driblar a vida.
Nessa idade, nosso cérebro ainda é focado demais nas próprias histórias. No ego. Acabamos nos conectando a pessoas, que assim como nós, se encontram na mesma vibração.
E parece de novo, que vai durar pra sempre. Na mesma intensidade. Nós e aquelas pessoas. Daquele exato jeito. Mas tudo muda. Tudo muda mesmo!
Não é curioso que você tenha tido mais amigas nessa sua pior versão do que agora, que você evoluiu e mudou?
Fui até os quase 30 com algumas dessas pessoas no meu convívio. E quando você permite que gente que te conheceu na sua fase mais individualista te veja crescer, existem algumas opções.
Ou vocês mudam juntos de um jeito muito único, ou viram pessoas diferentes, convivendo pelo o que houve no passado, sem sentir o amor que sentiam antes.
Eu mudei, mas acho que algumas delas não perceberam.
Ficaram apegadas a quem eu era.
Em uma versão pior de mim.
Antiga,
sem atualizações de corpo,
de mente,
de alma.
De ser.
Já te aconteceu? Essa sensação de que não conseguem te ver como você é? De que não conseguem entender as nuances do seu verdadeiro você?
Nossas relações não acontecem a toa,
acredito muito nisso.
Como te contei em outra news, a partir de certo momento, me apaguei de forma muito intensa à espiritualidade. E não estou falando de religião aqui.
Estou falando de quem você é. Você conectada a alguma energia especial que já vive aí.
Uma força que só é possível perceber se abrir muito os olhos pra enxergar, e principalmente em meio ás maiores quedas.
Sei que não é todo mundo que vai entender o que estou falando, mas depois que você decide se conectar com você mesmo, existe alguma sincronicidade no mundo que começa a aparecer com todas as forças.
Nos menores passos, nas coisas mais simples, nos mínimos toques, na vida!
Juro que não é positividade tóxica. Você já tem repertório para saber que eu sou muito mais complexa do que isso, mas chame de Deus, universo, energia, fé. Como quiser. Acho mesmo que ela já vem dentro, pronta pra florescer no interior de cada um de nós.
E mudamos com ela, se quisermos. Está em cada coisa vivida, cada relação.
Virar uma pessoa "mais espirituosa” me ajudou muito nisso também. Entender as relações.
Se as pessoas que passaram na sua vida, não tivessem passado (…) Você seria quem é agora? O que teria aprendido?
Se morremos sendo os mesmos e se ninguém tem a capacidade de mudar, para quê nos relacionamos?
Nós não somos sozinhos, somos todos os instantes e todas as pessoas. Mesmo aquelas que não fazem mais sentido.
Até o conhecido mais negativo que já te tocou, teve importância para que você seja como é agora.
Decidir ser melhor vai te deixar ainda mais sozinho.
O momento em que decidi "me espiritualizar” não aconteceu porque acordei em um dia qualquer, desejando mudança.
Na verdade, veio de forma natural em um dos piores momentos da minha vida. Posso te contar sobre em outro momento.
Mas se você já passou por grandes transformações já sabe que elas vem em fases que parecem impossíveis de superar.
Obviamente que não por acaso, foi a mesma época em que percebi que não estava sendo realmente vista por aqueles amigos antigos que eu tanto gostava.
Sentia falta de abraço, acolhimento, entrega, reciprocidade. Sentia falta de amor.
Lembro de tentar me aproximar, dizer de algumas formas que precisava de mais. E tentava entregar mais, pra ver se me entregavam de volta também.
Não acontecia. Não aconteceu.
O que eu ouvia o tempo inteiro eram piadas antigas sobre alguém que eu já não era e conversas iguais que só me deixavam mais pra dentro. Mais só.
É cruel quando o nosso crescimento incomoda. Como se, a gente estivesse traindo a versão que os outros preferiam.
Minha transformação pessoal não aconteceu só por causa da idade ou das coisas que estavam fora do lugar.
Ao mesmo tempo em que eu ficava triste por me sentir sozinha, me sentia melhor, feliz.
Algo em mim havia mudado pra sempre e eu iria com ela, essa versão de mim, não importava pra onde fosse. Ela me bastava.
Quantas vezes você tentou manter viva uma versão sua só pra não decepcionar alguém? E quantas vezes você teve a sensação de que você era o suficiente pra si mesma? Não é muito melhor ter isso?
Na mesma época, comecei, obviamente que não por acaso de novo, a jogar Tarot Cigano. A solidão realmente ia indo cada vez mais embora, ao mesmo tempo em que ficava. Eu gostava do que sentia.
Comecei a estudar de forma livre. Aprendi mais sobre mim, me abri pro novo, pro passado.
Me curei muito e me abracei como nunca antes. Naqueles dias, tinha acabado de parar de usar bengala, depois de um acidente.
Era como ir nascendo outra vez (…) do zero, como um bebê prestes a aprender a andar. Eu estava diferente.
E estar diferente me deixou só.
Foi uma consequência, mas também uma escolha.
Você escolheria a si mesmo ou preferiria continuar tentando receber o amor dos outros?
Aceitação não é algo que te entregam.
Sua vida hoje é o resultado de acontecimentos, histórias, relações e dores inesquecíveis, mas você está aí. Lendo ou ouvindo um texto que fala sobre se auto-conhecer.
Decidir seguir em frente é deixar muitas coisas pra trás, mas isso é uma coisa boa.
Perdi as contas de quantas vezes ouvi dos meus próprios pais que eu “estava mudada demais". É (…) as pessoas não estão preparadas para aceitar isso.
Ter consciência das próprias decisões, quedas e transformações são ganhos, e eles interessam apenas a você.
Orgulhe-se de tudo o que caminhou até aí sem culpa. Ninguém que já te conheceu antes sabe o tanto que você já é agora.
Você mudou e não precisa que aceitem coisa alguma.
Isso requer coragem. Continue tendo coragem. Se transformar pessoalmente não traz arrependimentos. Traz liberdade! Você sabe o que teve que aguentar pra ser quem é agora. Então deixe.
Deixe!
Deixe que digam,
deixe que vão.
Deixe que essa liberdade floresça.
Deixe que ela chegue
até você.
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Se esse texto te atravessou, me ajuda a saber disso. Clica no coração no final do e-mail e me manda um sinal ❤️ Um beijo da sua escritora mais intensa. Lua.
eu amei! lindo texto, escrita incrível 🩷